domingo, 24 de julho de 2011

ESCALA CLARA OU ESCURA, QUAL A MELHOR?

O título deste texto levanta uma dúvida bastante freqüente entre os instrumentistas de cordas. Sua resposta, porém, é um tanto imprecisa no que diz respeito a características sonoras. Isso porque a cor da escala não determina em nada o som do instrumento - da mesma forma que a cor de um carro não interfere na qualidade de seu motor, por exemplo.

O que de fato conta, nesta questão, são as características físicas da escala. Quando feitas com madeiras macias, com os poros e veios mais abertos, favorecem os médios e graves. Já as madeiras duras e pesadas destacam os agudos.

Para elucidar a questão, vale lembrar uma aula que tive no curso de lutheria da universidade estadual de música Tom Jobim (ULM). Na ocasião, meu saudoso mestre Eduardo Ladessa fez uma comparação bastante interessante e esclarecedora sobre o assunto: “Imagine uma corda de aço com as extremidades presas em uma chapa de inox. Ao percuti-la, o som produzido será um tanto estridente. Já, se estiver presa em um pedaço de isopor, o som não terá tanto brilho. Aliás, será mais grave ...O mesmo efeito acontece com as madeiras, porém em menor proporção, claro”, explicou.

Assim, fica mais do que claro que madeiras de cores diferentes podem proporcionar as mesmas características sonoras, pois o que rege o timbre são as propriedades físicas da madeira - e não estéticas. Portanto espécies de cores parecidas podem produzir timbres distintos.

Vamos usar o seguinte exemplo para facilitar o entendimento: visualmente o maple e o pau-marfim são madeiras bastante parecidas. Entretanto, a primeira é leve e porosa, enquanto a segunda – como o próprio nome sugere – é dura e pesada (aliás, com densidade similar à do jacarandá, que, por sua vez, é uma espécie escura). Desta forma, apesar de serem similares, o maple e o pau-marfim proporcionam sonoridades diferentes.

Cuidados

Deixando a questão do timbre um pouco de lado, o músico deve estar bem ciente quanto aos cuidados específicos da cor de sua escala. Ao contrário das outras peças de um instrumento, esta é a única parte que não é envernizada, portanto necessita de atenção especial.

Escalas claras, obviamente, sujam em menos tempo de uso do que as escuras. É bom ressaltar que as madeiras mais porosas, se não estiverem envernizadas, acumularão mais sujeira e gordura do que as mais duras e de veios bem fechados.

Portanto, se tiver que escolher entre o maple e o pau-marfim (ambas claras), a dica é optar pela segunda, que é mais densa e com os veios mais fechados, desde que você não se importe em ser contemplado com um timbre levemente mais agudo e definido.

Porém, as escalas claras não são as únicas que necessitam de cuidados especiais. Madeiras de cores vibrantes, como o pau-brasil, muirapiranga, Sebastião de arruda e o roxinho, oxidam e escurecem dependendo da acidez do suor da mão do músico. Geralmente as regiões mais tocadas ficam acinzentadas com o tempo, mas nada que uma boa lixa fina não resolva a questão estética.

Abraço e até a próxima!

terça-feira, 5 de julho de 2011

AFINAÇÃO DAS OITAVAS

Afinar as oitavas de um instrumento - ao contrário do que muitos pensam - não é nenhum bicho-de-sete-cabeças. Aliás, trata-se de uma tarefa que todos os músicos deveriam saber. Portanto, neste texto ensinaremos a afiná-las por meio do afinador elétrico, que garante uma maior precisão.

O processo é simples, porém requer paciência (e cerca 40 minutinhos). O primeiro passo é conectar o cabo no instrumento e no afinador, claro.
Posicione seu instrumento em sua perna de forma com que ele fique reto (em um
ângulo de 90 graus em relação ao chão). O segundo passo é afinar todas as cordas do instrumento. Inicie a afinação sempre pela corda mais grave, pois ela exerce mais tensão que as agudas. Em seguida, toque esta mesma corda, porém uma oitava acima, apertando na casa 12.

Se o afinador indicar que o instrumento está afinado, ótimo: um trabalho a menos.
No entanto, o mais provável é que as oitavas estejam desafinadas. Neste caso, se estiver com a afinação mais baixa (ou mais grave, tanto faz), com uma chave de fenda (ou Philips), solte o parafuso que movimenta o carrinho (da corda Mi, claro) da ponte. Se a afinação estiver mais alta, aperte o parafuso.

Em seguida, afine novamente a corda Mi solta. Teste novamente a afinação da oitava acima e vá ajustando-a até que fique perfeita, sempre intercalando entre a afinação pela tarraxa e pelo parafuso dos carrinhos.
Depois de afinada, inicie o mesmo processo na corda Lá. Feito isso, antes de começar a afinação da corda Ré, confira se houve alteração nas cordas Mi e Lá. Havendo qualquer diferença, corrija-a antes de passar para a corda seguinte. Repita o processo em todas as cordas, sempre da mais grave à mais aguda.

Um conselho é não “encasquetar” se a afinação não estiver 100% perfeita. Pois se trata de uma tarefa que exige muita paciência e tempo. Além disso, uma pequena variação da madeira do braço (ou mesmo uma simples troca de cordas) pode fazer com que afinação das oitavas oscile. E se você, músico, ficar muito preocupado com isso, passará muito tempo afinando e pouco tempo tocando... Além disso, não se esqueça que nem sempre todos terão ouvidos absolutos para apreciar a “superafinação” de suas oitavas.

Outra dica é não tentar afinar as oitavas de guitarras com ponte flutuante. Como seus carrinhos não possuem parafusos de ajuste de oitavas o processo é bem mais trabalhoso. Nestes casos a corda deve ser totalmente afrouxada para as oitavas serem afinadas, o que pode interferir na regulagem geral do instrumento. Portanto, deixe que esta tarefa seja realizada apenas por um profissional habilitado e de sua confiança.

Espero que tenha ajudado.

Abraços.