quarta-feira, 19 de outubro de 2011

PINTURA EM XEQUE

A aplicação de uma nova pintura em um instrumento não é - nem de longe - uma questão meramente estética. E muitos músicos, no afã de mostrarem seus “brinquedos” com um acabamento digno de fábrica, acabam caindo em maus lençóis ao pintarem seus instrumentos.

Este serviço, se não estudado e analisado com critério, poderá se tornar uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que promove a recuperação estética do instrumento, uma simples demão de verniz pode, por exemplo, comprometer toda a qualidade acústica de um instrumento, principalmente se ele for acústico ou semi-acústico. Isso porque a nova pintura impregna nos poros da madeira, alterando características como flexibilidade, potencialidade vibracional, densidade, porosidade, entre outras.

O resultado de toda esta interferência é - com certeza - a perda da qualidade do timbre do instrumento. Assim sendo, fica a pergunta: Afinal, quando devemos trocar a pintura ou verniz de um instrumento?

CADA CASO É UM CASO

Bom senso e critério são fundamentais antes de uma nova pintura ser aplicada. Instrumentos maciços, ao contrário dos acústicos, podem ter seus vernizes substituídos ou removidos sem maiores preocupações com os quesitos sonoros. Mas não esqueça que cada caso é um caso, e deve ser tratado com muita atenção. A pintura original de uma guitarra Gretsch da década de 1950 jamais deverá ser trocada ou removida, por mais que esteja surrada. Caso contrário, a qualidade do som e o valor da peça serão incrivelmente reduzidos.

Mas não são apenas instrumentos antigos e raros que devem passar por uma avaliação antes de solicitar este serviço. Pintar uma guitarra de baixa qualidade (como Phoenix, Tonante ou Menphis) também não é bom negócio, se levado em conta o baixo custo do instrumento em relação ao valor do serviço. Com certeza a nova pintura não valorizará a peça e o prejuízo será certo.

ATENÇÃO COM OS ACÚSTICOS

Violões, violinos, cellos, rabecões, violas e cavacos são apenas alguns instrumentos acústicos que estão na lista daqueles que merecem toda atenção antes de sofrerem um processo de pintura. E se você possui um instrumento antigo, ou com mais de 15 anos, redobre o cuidado!

Explico o porquê: quando um instrumento acústico industrial é fabricado, a madeira, embora tratada, é recém cortada e, por isso, sofrerá alterações, perdendo umidade com o passar do tempo.

Depois de 15 anos, a madeira do instrumento já estará seca e a tendência é de o seu timbre ficar cada vez mais apurado, se a peça estiver bem conservada, claro. Portanto, é comum vermos muitos instrumentos antigos gerarem um som de melhor qualidade que instrumentos novos de loja. Por este motivo, também, muitos luthiers preferem talhar suas “obras” em madeiras nobres provenientes de demolições. Muitas delas com 20, 30, 50, 100 anos ou até mais. Com certeza é garantia de um timbre único.

Assim, fica claro que restaurar o verniz original de um instrumento acústico velho pode não ser, exatamente, um bom negócio.

OS ATIVOS

Não é novidade para a maioria dos músicos que o timbre dos instrumentos com captação ativa e circuito pré-ativo (geralmente alimentado por bateria de 9V) é regido pelo sistema elétrico. Portanto, o instrumento com estas características poderá ser pintado sem maiores preocupações com mudanças sonoras, pois o verniz novo nada influenciará. O músico, porém, deve estar ciente da possibilidade de transformá-lo em passivo. Nesse caso as coisas mudam, já que a madeira gera grande influência no timbre deste tipo de sistema.

O VERNIZ VERMELHO DO VIOLINO OCTOGENÁRIO

Certo dia, um senhor trouxe em minha oficina um violino brasileiro (com algumas madeiras nacionais) com tampos e laterais maciças feito à mão durante a década de 1930 – uma raridade, diga-se de passagem. Sua pintura original, no entanto, havia sido sobreposta por um verniz brilhante e avermelhado (um verdadeiro assassinato). Por sorte - e com muito trabalho - foi possível remover o verniz novo, deixando apenas original.

Mas se a pintura original tivesse sido removida para a nova ser aplicada, certamente o novo verniz teria se infiltrado na madeira naturalmente envelhecida e, conseqüentemente, prejudicado o timbre adquirido da peça adquirido com o passar das décadas. Por sorte, neste caso, não tivemos uma perda lastimável.

Abraço e até mais

Procure sempre saber a escola e conhecer o trabalho de seu luthier

terça-feira, 4 de outubro de 2011

LIMPEZA DO INSTRUMENTO

Manter um instrumento limpo e bem cuidado, não é apenas sinônimo de higiene e capricho. É a prova de que o músico ama sua arte. Muitos, porém, não sabem como proceder à tarefa e desconhecem as técnicas de higienização adotadas e os produtos de limpeza adequados, que podem tanto aumentar quanto diminuir (se não houver cuidado) o desempenho e – por que não? – a vida útil de seu instrumento.

Existe no mercado uma série de produtos que podem ser empregados na conservação de um instrumento, que vão desde óleo de máquina, passando pelo óleo de peroba, até as ceras de carnaúba e automotiva. Mas o grande desafio não é decorar uma enorme lista de produtos químicos, mas, sim, saber quando, onde e em qual ocasião eles devem ser aplicados.

A primeira regra para não errar é analisar, com muita atenção, o acabamento do instrumento, que pode ser encerado, pintado com verniz de poliuretano (PU), poliéster, goma laca ou, mesmo, tinta esmalte. Cada um destes tipos de proteções requer um cuidado peculiar.

Instrumentos pintados com PU, tinta acrílica, esmalte ou poliéster podem ser tratados com cera automotiva. Lembre-se, porém, de que este produto é corrosivo. Portanto, não deve ser aplicado com muita freqüência – em média, uma vez a cada 15 dias.

Já os mais rústicos, com acabamento em madeira apenas lixada, devem ser conservados com cera de carnaúba. Para hidratá-los, uma vez a cada seis meses, pode-se aplicar óleo de peroba ou de limão em toda a peça, exceto na escala. Por ser uma parte cujas medidas devem ser precisas, não pode sofrer alterações provocadas pela umidade gerada pelo óleo de peroba. Por isso, o mais indicado é o uso, neste caso, da cera de carnaúba (ou a automotiva, se a escala for envernizada).
APLICAÇÃO DA CERA

Todas as ceras requerem as mesmas técnicas de utilização. Primeiro, cubra o instrumento com uma fina película. Quanto menos cera utilizar melhor, pois, além de economizar o material, poupará seu tempo, uma vez que será mais fácil de remover uma fina camada do que crostas (mas não deixe de passar o produto em todos os cantos do instrumento).  

Após a aplicação, espere vinte minutos, para a secagem. Em seguida, pegue um pedaço de estopa e  remova o excesso. Feito isto, é a hora do polimento, cuja técnica é a mesma utilizada pelo lendário mestre Miyagi: faça-o sempre em movimentos circulares.

Está pronto, independentemente de seu instrumento ter acabamento em madeira, PU, ou poliéster (entre outros), você verá que, utilizando o material e a técnica correta, ele ficará brilhando como novo por muito mais tempo.

LIMPEZA DAS CORDAS

O mesmo zelo que temos com os instrumentos devemos ter com as cordas. Para elas estarem sempre impecáveis (aumentando a sua duração) limpe-a com uma flanela seca toda vez que terminar de tocar. Isso evitará o acúmulo de gordura e suor, que contribui com a corrosão.

Para as cordas de aço, a dica é pingar cinco gotas de óleo de máquina em um pedaço de estopa e aplicar sob elas. Mas tome cuidado para não deixar o óleo escorre na escala, pois um descuido desses poderá prejudicar a madeira e o verniz de seu instrumento.

Atenção com as cordas da marca Elixir: por possuírem um revestimento plástico, não as limpe com óleo de máquina. Use apenas uma flanela (ou estopa) seca, principalmente por debaixo das cordas, pois é neste local onde a gordura dos dedos se acumula.

Abraço e até mais
Procure sempre saber a escola e conhecer o trabalho de seu luthier