terça-feira, 28 de junho de 2011

COMO SABER SE O INSTRUMENTO É MACIÇO?

Não se engane e nem se deixe enganar. Muitas vezes, no afã de comprar um instrumento, músicos amadores e profissionais acabam levando gato por lebre, principalmente quando a questão envolve instrumentos acústicos e semi-acústicos, como violões, cavacos, baixos, violinos, violas, guitarras contrabaixos entre outros.

Muitas fábricas de instrumentos musicais, para economizarem em material e mão-de-obra, utilizam compensado – e até aglomerado – no lugar da madeira maciça. Essa prática, porém, não é apenas uma tática adotada por empresas de instrumentos de baixo e médio nível.

Nos últimos anos algumas das marcas mais famosas do planeta tem fabricado guitarras semi-acústicas e violões de compensado. Portanto, a promessa de que empresas renomadas são garantia de qualidade nem sempre é real - já que elas abusam de sua tradição. É como aquele velho ditado: “Quem tem fama, deita na cama”. Entretanto, fazem isso ferindo o bolso de centenas de consumidores desatentos, todos os dias.


Só para ilustrar o fato, basta dizer que um cliente do grande mestre da luthieria Eduardo Ladessa comprou uma desses instrumentos de compensado por nada menos do que (pasmem) R$7.000,00! Quando o Edu, com muito jeito, falou que sua guitarra não era de madeira maciça, o cliente pensou e logo respondeu: “Tudo bem... é compensado de maple”. No mínimo ele estava desapontado, mas tentando se convencer de que o fato de ser de maple mudaria em algo.

Diante desta realidade, fica a pergunta: como os músicos devem se proteger deste engodo que deprecia – e muito - a qualidade do som no que diz respeito à questão acústica?

O primeiro passo é saber diferenciar um instrumento acústico feito com peças maciças e outro de compensado. Mas, antes, precisamos conhecer as características de ambas.

O tampo superior dos violões e guitarras semi-acústicas de compensado é feito, geralmente, com três folhas de madeira prensadas e coladas uma sob as outras.

A primeira reveste a peça, por isso são usadas madeiras como spruce ou abeto, por sua beleza. A segunda e terceira folhas geralmente são maple ou araucária. Tratam-se de madeiras mais econômicas de fáceis de serem trabalhadas.

O problema deste sistema de construção é que essas três peças são dispostas, uma às outras, de forma perpendicular, fazendo com que o tampo ganhe resistência e perca parte do seu potencial vibratório: e o resultado disso é a queda na qualidade sonora do instrumento.

Para diagnosticar  e distinguir o  tipo de construção, a alternativa mais simples é analisar com atenção a boca do instrumento.
Para facilitar, siga o passo a passo abaixo:

Pegue um instrumento acústico


Se for violão, veja se os veios da madeira do tampo seguem seu rumo até a curva da boca. Se isso ocorrer é porque o tampo é maciço, ou seja, feito com uma única peça (foto acima).


Agora, se o tampo for fino demais e os veios terminarem retilíneos na boca do instrumento, é porque é feito em madeira compensada com cola - um material que muito interfere na acústica (foto acima).

No caso das laterais do corpo, se o violão for elétrico, remova o pré-amplificador e veja se o corpo é de compensado.

Se for guitarra, violino, violoncelo, viola ou contrabaixo acústico, veja se o “F” do tampo superior possui peças coladas no sentido de sua espessura. Se houver, é porque o instrumento é de compensado.

Portanto, fica a dica: antes de julgar a qualidade dos instrumentos pela sua marca ou beleza, confira a forma como foi construído, e, se ainda tiver dúvida na hora da compra, consulte, antes, um luthier de sua confiança (que, de preferência, tenha boa formação técnica e não possua vínculos com a loja em que você pretende comprar o instrumento).
Abraços

Vitor Gomes

domingo, 12 de junho de 2011

CARACTERÍSTICAS DAS MADEIRAS TRADICIONAIS

No texto anterior vimos os motivos pelo qual a melhor madeira é a envelhecida. Neste, focaremos as características das madeiras utilizadas em fábricas mundo afora, já que no mercado de instrumentos musicais imperam algumas espécies de madeiras que ao longo das décadas foram se tornando tradicionais, mas nem por isso, são as melhores.

Por causa do forte tradicionalismo criado no setor, muitos dos instrumentos fabricados aqui no Brasil (que possui uma das mais ricas diversidades florais do planeta) infelizmente são feitos com madeiras importadas, como o Ash e o Maple.

E assim, a nossa riqueza natural é subjugada pelo favoritismo mercadológico, pois a maioria das guitarras e contrabaixos (independentemente de a fábrica ser ou não nacional) possui corpos feitos em Agathis, Alder, Ash, Basswood, Maple, Mogno, Poplar e Spruce (tampo de guitarras semi-acústicas).

Nos braços as preferências são o Maple, Mogno, Cedro e Walnut; enquanto as escalas são feitas, geralmente, em Maple, Jacarandá Indiano (Rosewood), pau-marfim (em alguns instrumentos nacionais).

Confira abaixo, as características das principais madeiras utilizadas pelas fábricas de instumentos

Alder – Madeira de baixa densidade. Muitos músicos não gostam da sua aparência estética, mas concordam que ela favorece os médios e agudos. Segundo um estudo do engenheiro florestal Gustavo de Amorim Fernandes, a velocidade de propagação sonora é de  4836 m/s.

Ash –
Por ser uma madeira de densidade média, um instrumento com corpo feito em Ash é certamente mais pesado do que um em Alder, característica que favorece os médios e agudos. De acordo com o trabalho de Amorim Fernandes, a velocidade de propagação sonora é de 4875 metros por segundo, neste aspecto é bastante similar ao Alder.

Basswood –
Madeira extremamente leve. Utilizada na construção de corpos de guitarras maciças, como alguns modelos da Fender fabricados no Japão. Segundo a pesquisa de Amorim Fernandes, a velocidade de propagação sonora é de 5687 metros por segundo.

Cedro –
Esta madeira nacional é bastante utilizada pelos instrumentos Tagima fabricados no Brasil. De densidade média, esteticamente esta madeira é bastante similar ao mogno (ou seja, sem graça). Porém, sua velocidade de propagação sonora é superior. De acordo com Amorim Fernandes, a velocidade de propagação sonora do Cedro é de 4639 metros por segundo, enquanto a do mogno é de 3464 m/s.

Ébano –
Trata-se de uma madeira africana muito rara. Por ser de alta densidade e cara, é utilizada apenas nas escalas de instrumentos “top de linha” ou feitos por luthiers. Segundo pesquisa, a velocidade de propagação sonora é de 4333 metros por segundo.

Jacarandá (Rosewood) – Madeira de alta densidade. Dentre os jacarandás, o mais apreciado é o baiano (nacional). Assim como o Ébano é usado nas escalas dos instrumentos. De acordo com o estudo de Amorim Fernandes, a velocidade de propagação sonora é de 3590 m/s.

Maple –
Esta é uma madeira que é utilizada tanto no braço quanto no corpo. Em alguns casos é possível encontrar, ainda, escalas feitas com essa madeira – embora, na  opinião de muitos músicos,  não seja a melhor escolha por ser relativamente porosa, macia e clara. Portanto, se não for envernizada, a escala poderá sujar rapidamente. A vantagem desta madeira é que, além de ser leve, de acordo com Gustavo de Amorim Fernandes, a velocidade de propagação sonora é de 4880 metros por segundo, um bom número.

Mogno –
É conhecida por ter sido adotada pela Gibson. De acordo com a pesquisa de Amorim Fernandes, a velocidade de propagação sonora é de 3464 metros por segundo. Trata-se de uma madeira de densidade média, porém é, geralmente, menos densa que o Maple.

Marupá –
Madeira de média densidade, vulgarmente conhecida como Caixeta, por ser utilizada também na fabricação de caixas de feiras. Por ser bastante utilizada na construção de corpos de guitarras e baixos Tagima, é garantia de um instrumento leve. Segundo Amorim Fernandes, assim como o Mogno, o Marupá é uma madeira de “média densidade e baixa velocidade de propagação” do som. Geralmente os instrumentos fabricados com ela são pintados pelo fato de a madeira não ser bonita.

Poplar –
Madeira bastante leve, com características sonoras similares ao Marupá. Porém a velocidade de propagação sonora é de 5052 metros por segundo.

Spruce –
É utilizada apenas nos tampos de guitarras acústicas, semi-acústicas e violões, por ser uma madeira leve e com boa resposta. Segundo o estudo de Amorim Fernandes, a velocidade de propagação sonora é de 5180 metros por segundo, excelente velocidade.

Pau-marfim
– embora seja clara como o Maple, esta madeira brasileira possui alta densidade. Em questão de sonoridade, por ser uma madeira densa e dura, na escala pode ser substituída pelo Jacarandá.

A MELHOR MADEIRA É, SEM DÚVIDA, A ENVELHECIDA



A influência da madeira no timbre do instrumento é um assunto que provoca dúvidas em muitos músicos, mas uma coisa é certa: engana-se quem pensa que a madeira não exerce uma influência considerável na qualidade de um instrumento.

Como matéria prima fundamental para a obtenção de um resultado final satisfatório, ela deve ser escolhida “a dedo”, para que o peso, resistência e, também, a estética do instrumento e timbre estejam de acordo com as exigências de seu proprietário.

Quando perguntam quais são as melhores madeiras para instrumentos maciços, a resposta é inatingível. Isso porque não existem melhores ou piores, mas, sim, as mais adequadas. E costumo dizer que estas são as bem curtidas com, no mínimo, 20 anos de secagem natural, pois, além de proporcionarem um timbre mais puro, são garantias de que o instrumento não sofrerá alterações com o passar dos anos (como torções no braço e deformações na escala). É como aquele ditado: "panela velha é que faz comida boa"!

Agora, no que diz respeito à qualidade das variadas madeiras para construção de instrumentos musicais elétricos, o correto é afirmar que as madeiras proporcionam resultados sonoros diferentes. Há aquelas que destacam os agudos, enquanto outras, os graves. Há ainda as que têm um tempo de resposta rápida; e, outras, podem proporcionar uma sustentação da nota mais prolongada. E o que determina essas potencialidades são características como densidade, dureza, flexibilidade, umidade entre outros.

Desta forma, todas estas questões devem ser levadas em conta na hora de comprar ou encomendar um instrumento feito à mão, por um luthier. Porém, não devemos esquecer que a madeira não é a única responsável pelo timbre de um instrumento. A combinação entre captadores, jogo de cordas, regulagem, equalização, madeira, capotraste (ou pestana) e, claro, o tipo de construção e madeira utilizada no instrumento, também deve ser levada em conta.