segunda-feira, 26 de março de 2012

CHECANDO A QUALIDADE DO BRAÇO

Que atire a primeira pedra o músico que antes de comprar um instrumento avaliou com critério o braço da peça. Neste importante momento, muitos músicos passam horas a fio em lojas testando diferentes modelos e prestando atenção, especialmente, no timbre e estética.

Porém, a última coisa que analisam é o braço, que, infelizmente, nunca é avalizado com a devida importância. Afinal, muitos acreditam que ele não “interfere de forma significativa” no timbre, muito menos no visual, e, por isso, não vale a pena perder tempo com esses “detalhes”.

Esse, porém, é um erro comum cometido por diversos músicos, tanto amadores quanto profissionais. Isso porque desconhecem que um braço mal feito certamente comprometerá boa parcela do potencial do instrumento, independentemente de ser um Tonante ou um Fender americano.

Portanto, antes de fechar negócio, é fundamental sempre checar a madeira do braço, o funcionamento do tensor, a colocação dos trastes entre outros fatores que podem ser determinantes para a qualidade do instrumento.

Ao contrário do que muitos imaginam, não é preciso ser um expert no assunto para detectar pequenas falhas no braço de um instrumento, que, com o passar do tempo, podem se tornar uma verdadeira dor de cabeça.


VEIOS DO BRAÇO

O primeiro passo é analisar os veios do braço. Eles devem estar em linhas retas e paralelas. Caso a madeira apresente algum nó (veios ondulados ou espiralados), fique esperto e evite comprar o instrumento. Isso porque os instrumentos industriais são fabricados com madeiras recém cortadas, que passam por um forno especial para retirar a umidade da madeira.

O problema é que a qualidade deste tipo de secagem artificial não se compara à secagem natural ao longo de décadas. E pelo fato de a madeira de instrumentos industriais ser relativamente úmida, ela corre o risco de torcer, envergar, estufar ou retrair enquanto seca, o que pode comprometer - e muito - a potencialidade de regulagem do instrumento. 


O TENSOR

Outro cuidado importante que se deve tomar antes de comprar um instrumento, independentemente de sua marca, é atestar se o tensor está em perfeito funcionamento.
Caso o mecanismo da peça não esteja funcionando corretamente, nem mesmo o melhor luthier do mundo conseguirá fazer uma boa regulagem.

Se a loja oferecer serviço de luthieria, ótimo: peça que o instrumento seja regulado. Se depois disso ele ainda estiver desconfortável e com as cordas altas, não o compre, pois alguma coisa não está certa!

Caso a loja não ofereça serviço de luthieria, antes de expirar a garantia de três meses do produto, leve-o a um profissional de sua confiança, para que ele regule e ateste a sua qualidade e desempenho.


A ESCALA

É sempre importante analisar com critério a escala do instrumento. Com uma régua confira se ela tem entre dois a quatro milímetros de espessura. O importante é ter certeza que a escala possui a mesma medida do começo ao fim e dos dois lados. Se por um acaso ela tiver 4mm nas pontas e 3mm no centro, por exemplo, não compre o instrumento. Essa diferença milimétrica influenciará muito em seu desempenho.


PESTANA

O ideal é que a pestana e rastilho sejam de osso de canela de vaca, pois o plástico e o nylon com o uso sofrem desgastes e problemas mais sérios podem começar a surgir com freqüência. Porém, dificilmente encontrará pestanas de osso, pois até mesmo algumas marcas conceituadas infelizmente utilizam o plástico para confeccionar a peça.


TRASTES

Confira se nenhum deles está levantado ou mal encaixado. Se estiver, é um mal sinal e impróprio para ser adquirido.


TARRAXA

O importante é conferir se elas estão segurando a afinação.


(Procure sempre saber a escola e conhecer os trabalhos de seu luthier)

sábado, 3 de março de 2012

VIOLÕES: VALE A PENA CONSERTAR?

A pergunta que leva o título deste texto com certeza permeia a cabeça de diversos músicos, quando seu violão quebra. Afinal, as mega-indústrias de instrumentos de países como China, Coréia e Taiwan, ao mesmo tempo em que democratizaram a prática musical, entupiram o planeta com violões e violas de qualidade, no mínimo, duvidosa.

Duvidosa, sim, pois o baixo valor monetário destes produtos (em geral) tem um alto preço: pouca qualidade e curta durabilidade, em especial no caso dos violões.
Por esse motivo, quando um destes instrumentos quebra, não tem jeito, sempre fica a dúvida: "Será que vale a pena consertar?". E o único que pode responder este dilema é, de fato, o proprietário do instrumento.

Hoje podemos dizer que maioria dos instrumentos de origem asiática são, de certa forma, descartáveis, pois, quando quebram, raramente valem ser consertados. Isso porque são fabricados com madeiras compensadas, aglomeradas e até MDF. Além disso, são construídos sem critérios que respeitam a precisão das medidas que qualquer instrumento deve ter, o que pode reduzir e muito a sua qualidade.


Desta forma, muitos clientes julgam que o conserto pelo seu custo, mas se esquecem que, na verdade, o valor do instrumento é baixo.  Para ilustrar basta dizer que dificilmente alguém pagaria R$200,00 para consertar um violão Kashima, compensa mais comprar um novo. Mas se o mesmo serviço e valor forem aplicados em um Ramirez (avaliado em cerca de R$40 mil) é o mesmo que “salvá-lo por uma bagatela”.

Outro fator importante no momento de decidir entre consertar (ou não) é o apreço sentimental pelo instrumento. Muitas vezes o violão foi de uma pessoa querida e por isso muitos optam por consertá-lo.


QUANTO MAIS VELHO, MELHOR

A idade do instrumento também é um fator determinante na decisão de consertá-lo, principalmente nos casos dos violões.

Vamos tomar como exemplo um Giannini modelo estudante da década de 1980. Imagine que seu cavalete esteja descolado, o braço quebrado, sem o rastilho e com a pestana gasta, além de estar com as tarraxas enferrujadas.

Para deixá-lo em ordem será necessário um investimento de cerca de R$450,00. Mas será que o serviço é válido, considerando que com esta quantia é possível comprar um violão novo? A resposta é sim, o conserto compensa. Isso porque, além de serem instalados pestana e rastilho feitos de osso (que são muito melhores dos que os originais de plástico), a madeira do instrumento antigo (mesmo sendo compensada) estará totalmente curtida, tendo secado naturalmente ao longo das décadas.

Com isso o violão antigo terá um som mais definido e encorpado do que os instrumentos novos de loja, recém-fabricados. Outra vantagem é que a madeira do violão antigo, por estar seca, não sofrerá torções e deformações. O mesmo não acontece com os novos de loja.

Portanto, há casos em que um conserto geral poderá deixar seu instrumento com um timbre de qualidade muito superior ao de um violão novo.   

(Procure sempre saber a escola e conhecer os trabalhos de seu luthier)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

FLOYD ROSE, UM PEPINO À PARTE

Não é novidade para nenhum guitarrista que os efeitos sonoros "vanralísticos" e “satrianísticos” só são possíveis se executados em instumentos com sistema de ponte flutuante, popularmente conhecido como Floyd Rose.

Porém, também não é novidade que essas guitarras guardam uma mecânica complexa e delicada, em que qualquer mudança - até mesmo uma simples troca de cordas - pode a alterar regulagem por completo.

Por isso resolvi escrever este texto, repleto de dicas para os fãs dessas guitarras.

Para evitar a perda da regulagem de seu instrumento, o primeiro passo é saber qual o tipo de encordoamento que você deseja.

Sabe-se que a ponte Floyd Rose foi criada pelo lendário guitarrista Eddie Van Halen e seu mecanismo foi projetado para cordas de tensão 0.9. Portanto, este jogo de cordas propicia a medida ideal de conforto destes tipos de guitarras, principalmente no que diz respeito ao uso da alavanca.

Mas isso não quer dizer que os proprietários de guitarras flutuantes não possam se aventurar em cordas mais pesadas.

Já tive clientes que me pediram para instalar cordas 0.10 e até 0.11 em instrumentos com Floyd. Nestes casos, o grande entrave é que a alavanca tende a ficar mais dura, pois a tensão das cordas das molas é maior, ou seja, a alavanca tende a ficar mais dura.

Mas, certa vez, um cliente pediu para que eu regulasse uma guitarra floyd rose com uma corda de tensão 0.12, que ele havia colocado há cerca de uma semana, porém, sem sucesso na regulagem.

Verifiquei que os parafusos que sustentam as molas estavam espanando devido à pressão. Os dois pivôs que sustentam a ponte, pela enorme tensão, estavam completamente inclinados para a frente. Conclusão: o jogo 0.12, destruiu todos os pontos de fixação da mecânica do instrumento e tivemos que fazer enxertos no corpo do instrumento com madeiras mais resistentes - no caso jacarandá -, para resolver o problema.

O fato é que a madeira desta guitarra não deveria ceder. Mas isso ocorreu porque a maioria das fábricas de todo o mundo faz instrumentos com madeiras de custo baixo, porosas, leves, mais fracas e, portanto, menos resistentes à pressão.


O MITO DA AFINAÇÃO PERMANENTE

Quem disser que a floyd rose não desafina jamais, está enganado. Apesar de essas guitarras manterem bem a afinação, elas desafinam sim. E isso é um processo natural a qual todos os instrumentos de cordas são sucetíveis. Nenhum está isento.

Nestas guitarras a desafinação freqüente ocorre em algumas situações: quando as cordas são muito novas (ou velhas), quando as cordas foram instaladas de forma errada, quando as molas perderam seu potencial de tensão, quando os prendedores de cordas estão gastos ou quando partes específicas da madeira do corpo estão cedendo.

Caso o problema ocorra (exceto no caso de cordas novas), o ideal é trocar o jogo  - do jeito certo, claro - por outro da mesma tensão. Se o problema persistir, procure o luthier de sua confiança.

ATENÇÃO À AFINAÇÃO

Quando uma Floyd Rose é regulada com uma determinada afinação, jamais altere-a sem antes submeter o instrumento a uma regulagem. Isso porque, ao mudar a afinação, a tensão das cordas é alterada e, conseqüentemente, influenciará também as molas, a ponte e o braço, fazendo com que a guitarra perca a precisão de afinação (ou fique totalmente desafinada) e o conforto durante as digitações. Para saber mais, leia o artigo "Quando a afinação cai..."


TROCA DE CORDASQuando feita corretamente nas guitarras com ponte flutuante, a troca de cordas é essencial para a manutenção da regulagem. Por isso, fizemos um texto especialmente dedicado à troca de cordas.

A CURIOSIDADE MATOU O GATO

Lembre-se que algumas partes da floyd rose nunca devem ser mexidas sem que a pessoa tenha um amplo conhecimento técnico e mecânico do sistema. Por isso, jamais tente ajustar o tensor e as molas do instrumento; caso contrário, além de desregular  instrumento, você poderá causar danos praticamente irreversíveis, como por exemplo, a quebra do tensor. Quanto aos pivôs da ponte, prendedores de cordas e microafinadores, é pertinente que todos os músicos tenham intimidade com essas peças.

PONTO DE ESTABILIDADE

Não é porque a guitarra é floyd rose que você, músico, pode sair dando alavancadas para frente e para trás, sem que o instrumento perca a afinação. Isso é uma idéia errônea. Se os virtuoses Steve Vai e Joe Satriani fazem isso é pelo fato de suas guitarras terem sido projetadas especialmente para esta fim, ou seja para agüentar muito tranco. Além disso, esses instrumentistas são exímios profissionais que sabem exatamente o que estão fazendo.

Recordo-me de uma vez em que um garoto de cerca de  17 anos levou uma floyd (Ibanez Coreana) para o mestre Eduardo Ladessa (um dos melhores luthiers do país) regulá-la. O jovem reclamou, dizendo que quando ele usava a alavanca, a guitarra desafinava. O Ladessa afirmou que o problema era o mau uso da alavanca e pediu para que ele voltasse "amanhã".

No dia seguinte, o mestre convidou um ótimo guitarrista, o Caio, para mostrar ao jovem como se usa a alavanca. Ele fez várias firulas, sem que a guitarra sequer desafinasse. No final, o garoto percebeu que, de fato, ele não sabia usar a alavanca, agradeceu ao Ladessa e passou a tomar aulas com o Caio.

(Procure sempre saber a escola e conhecer os trabalhos de seu luthier)